sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

[Naluh] A decisão de engravidar

Imagem por Jomphong - Freedigitalphotos.net
Engravidar ou não engravidar? Eis a questão.

Eu não queria filhos. Nunca quis. Quero dizer, quando eu era criança e adolescente eu quis. Queria dois pares de gêmeos. As meninas se chamariam Larissa e Melissa. Aí eu cresci. A ideia de parir, de ser responsável por um bebê/criança/adolescente era repulsiva, dizia que não tinha instinto maternal (e naquela época não tinha mesmo). Proferi discursos politizados sobre a quantidade de crianças órfãs no mundo e então, meus hormônios resolveram rir da minha cara.

No final de 2009 algumas pessoas próximas a mim pariram. E lutaram pra conseguir colocar o trem nos trilhos. Pra algumas tudo parecia difícil, outras não ligavam pra nada e, em meio a todo esse turbilhão, eu recebi um jorro de instinto maternal. E sofri como um cão. Eu não queria aqueles sentimentos mas não tinha escolha. Não dava para não sentir, e o "pior", querer. Comecei, então a estudar, lia tudo o que podia, fiz cadastros nos sites de maternidades, em fórum, vi trocentos videos de partos no You Tube, lia incessantemente. Acreditava que se eu vivesse a experiência através de outras mulheres, eu não precisaria passar por ela, acreditava que meu cérebro se contentaria. Ledo engano. Quanto mais eu lia, mais eu queria, e mesmo que eu não lesse não parava de querer. Estava muito enrascada. Chorei muito. Neguei muito.

Meu marido também não queria (mais) filhos. Ele tem uma filha de 23 anos que não pôde criar. Quando a reencontrou, aos 17 anos, ela veio no modo "kinder ovo". Eu amo minha enteada e acreditava que ela seria o mais próximo que teria de uma filha. Eu estava vivendo um drama secreto, com todo aquele desejo pela maternidade que não podia assumir, por orgulho, por medo, por tudo. Nunca tivemos condições financeiras que pudessem ser consideradas "confortáveis". Sempre ralamos muito, passamos por dificuldades, e quando eu lia quanto os especialistas diziam que custava um filho, eu surtava mais um pouquinho.

Demorou um pouquinho e nós, meu marido e eu, concordamos finalmente em engravidar. Isso foi no final de 2012 e planejamos para começar a tentar no início de 2013. Naquele ano eu prestei o ENEM, sem grandes esperanças, mas passei para História da UFF. Decidimos, então adiar para 2014 a inaguração da fábrica. Pois chegou em 2014 e nenhum de nós dois teve os colhões pra realmente dar o passo decisivo. Gente, que decisão difícil, essa a de engravidar! Tanta coisa em jogo: a liberdade, a individualidade, a faculdade, o relacionamento, o "sexo no chão da cozinha", as viagens dos sonhos e por outro lado, um desejo irracional e incontrolável de ter um filho. Uma coisa, entretanto, era certa: meu relógio daria o último tique-taque aos 30 anos. Essa é a minha deadline.

Então, ajustamos nossos ponteiros pra 2015. Mais seguros do que nunca - mentira -, mais apaixonados do que nunca pela ideia - verdade.

Um dos fatores fundamentais para toda essa paixão é a autobiografia do meu marido, que começou a ser escrita em 2009 também. Quando eu comecei a ler e conhecer o meu marido na infância, o desejo de ter um fedelho como aquele na barra da minha saia só crescia, em progressão geométrica e meu marido foi picado pelo mesmo bichinho: aquele que diz "quero um bebê na minha vida, será que será parecido com isso? Será que vai sentir assim, viver e ver assado?" Pronto. Estrago feito. Dois babões que decidiram que aconteça o que acontecer vamos fazer dar certo.

Às vezes eu ainda tenho uns surtos de insegurança. Minha vida parece tão legal pra eu abrir mão de tanta coisa por um bebê e, tipo, eu quero ser uma egiptóloga, isso inclui mestrado, doutorado e ainda faltam dois anos e meio pra eu me formar na graduação... Depois eu só lembro das coisas incríveis de se ter um bebê na vida, do arrependimento que terei (quase que certamente) se acabar não tendo esse bebê e repito comigo mesma: vamos fazer dar certo.

2015 é o ano. "Vamos fazer dar certo" é o meu mantra. Ao longo dos meses por vir vou falar de como planejamos fazer dar certo. Acreditamos que é possível criar um bebê com muito menos do que nos fazem crer que seja necessário, que dá pra ser feliz de formas autênticas e não ligadas à regras comportamentais ditadas por "terroristas da maternidade" e desprendido da realidade de consumo da sociedade capitalista. É um projeto de vida. Desejem-nos sorte.

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